Prolongar a vida
Seu vestido preferido, seu chapéu de palha e suas galochas pretas esburacadas. Caminhar pela horta/jardim de Ingrid, minha oma.
Muitas das vezes que caminho em um jardim é como se não fosse só eu individualmente a habitar meu corpo, mas também minha mãe. Agora, ao me deparar com essa horta/jardim que era de minha avó que faleceu, essa sensação de um corpo compartilhado com mais de uma pessoa parece ter se prolongado mais um pouco, e ao caminhar entre a terra cultivada, é como se estivesse apoiando meu peso sobre os ossos de minha avó.
Gosto de imaginar a existência como uma experiência compartilhada desde os tempos mais remotos. Emanuele Coccia sobre isso diz o seguinte : “nossas existências, nossa vida, mesmo aquilo que imaginávamos como mais íntimo e incomunicável em nós, não vem de nós, não têm nada de exclusiva ou pessoal: nos foi transmitida por outrem, animou outros corpos, outros pedaços de matéria, além daquela que nos abriga (...) Somos essa vida que compartilha o corpo de um outro, prolongada e levada para outro lugar